quinta-feira, 16 de maio de 2013

Matéria feita pelo jornal contramão da universidade UNA em Belo Horizonte por Ana Sandin


Na Calçada

Ele vai abordar os passantes e apresentar seu trabalho, vai fazer a pergunta em um tom cordial sem receio de um “não”. Os escritores de rua codificam a realidade em palavras nem sempre amenas.
De rua em rua, de copiadora em copiadora e de mão em mão. É assim que trabalham os escritores de rua que de forma descontraída vendem suas obras e ganham reconhecimento. Essa é a trajetória de Alexandre Washington Guimarães Paula, 33, mais conhecido como Joker Índio, ‘o escritor de todas as ruas’.
Índio começou a se interessar pela escrita aos 18 anos. No começo dos anos 90, época em que estava ligado ao movimento punk e a diversos protestos  “Foi ai que conheci as fontes de minhas inspirações: Augustos dos Anjos, Arthur Schopenhauer, Nietzsche, Franz Kafka, Albert Camus e é claro, as poesias dos poetas de rua”, relata. Joke admite que criava seus poemas ainda sem maturidade e, somente, em 2003 começou a tomar gosto pela produção literária.
O primeiro livro de Joker Índio, Eu, foi publicado por meio de reprodução em Xerox e de maneira independente. Seguindo o mesmo padrão chegou a seu quinto livreto chamado As Faces da Poesia. Seus livros, até o momento, foram apenas de poesias, mas Índio já pensa em diversificar a sua produção. “Futuramente, irei publicar contos”, adianta. Os livros têm um preço acessível, R$ 2,00 (dois reais), e com o dinheiro que ganha com as vendas, o escritor se sustenta, paga um “hotel podre”, segundo suas próprias palavras, e, ainda, viaja pelo país.
Vender os livros na rua não é opção, é prazer em se ver reconhecido. Não se pode ficar esperando a ajuda do Estado ou Governo. “Não quero morrer no anonimato. Gosto de abordar as pessoas, é uma forma de me sentir mais próximo dos leitores e assim faço amizades verdadeiras”, explica. A forma de interagir e efetuar a venda, para muitos ainda causa estranhamento. “A grande maioria ignora, acha que vou pedir esmola ou até mesmo furta-las, mas existem, ainda, pessoas legais que se alegram por eu estar mostrando a cara e não ter vergonha do que eu faço”, explica. Joker Índio, já conquistou o publico dos bares, das universidades e principalmente das ruas.
Com intuito de proliferar a literatura e a poesia de rua, em Minas Gerais, Joker Índio e mais quatro escritores de rua fundaram Associação dos Poetas Malditos de Ouro Preto (APMOP)A associação foi criada de maneira não tradicional. Os encontros são nas ruas e nos bares da cidade e são usados para discutirem o que fazer para inovar suas artes e como realizarem eventos independentes. Como o “Fodum das Letras”, crítica ao Fórum das Letras que segundo sua avaliação é um “evento voltado somente para aqueles que fazem parte da panelinha literária nacional”. O grupo é composto por escritores dos Estados do Rio Janeiro, São Paulo e Minas Gerais.  Esses escritores dominam todo o processo de produção. Desde a impressão e distribuição até o primeiro contato com os leitores, que seguem a caminhar perguntando aos transeuntes: Gosta de Poesia?

A santíssima trindade brasileira
…estou aqui sozinho
bebendo vinho
pensando na minha mulher
que pensa que fui trabalhar!
…estou aqui sozinha
juntinho do alfredo(cachorro)
pensando no meu macho
que pensa que fui cozinhar!
…estou aqui com meus amigos
usando drogas
pensando nos meus pais
que pensam que eu fui estudar!
(Joker Índio)
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Texto e foto: Ana Paula P. Sandim (Jornal Contramão 9ª Edição Setembro 2009)

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